O pânico pode desencadear dor abdominal súbita e intensa em muitas pessoas. Essa reação resulta de uma interação complexa entre o cérebro, o sistema nervoso, hormônios e órgãos digestivos. A dor abdominal durante ataques de pânico não é imaginária. Este tipo de dor decorre de reais processos fisiológicos que ocorrem durante um estado de medo extremo ou perigo percebido.

Alguns exemplos de situações que podem induzir pânico:
- Falar em público: Ficar no palco e perceber que esqueceu o discurso pode fazer seu coração disparar e seus pensamentos se dispersarem.
- Perder uma criança em uma multidão: No momento em que você se vira e sua criança desaparece, o tempo parece congelado.
- Pressão de provas: Sentar-se para um teste importante e ficar em branco de repente pode desencadear um medo intenso.
- Desastre natural: Sentir o chão tremer durante um terremoto geralmente faz com que as pessoas corram confusas.
- Preocupação financeira: Abrir um aplicativo bancário e ver uma drenagem inesperada de fundos pode causar pavor.
- Sintomas de saúde súbitos: Experimentar dor no peito ou dificuldade para respirar do nada pode levar ao pânico.
- Erro tecnológico: Excluir acidentalmente um projeto importante antes do prazo pode causar suor instantâneo.
Abaixo, explicamos os mecanismos pelos quais o pânico induz dor abdominal.
O pânico ativa o sistema de resposta ao medo do cérebro
O cérebro detecta o pânico como uma ameaça. A amígdala, que desempenha um papel central no processamento do medo, envia sinais ao hipotálamo. O hipotálamo, por sua vez, ativa o sistema nervoso autônomo, especialmente o sistema nervoso simpático. Essa ativação prepara o corpo para uma resposta de “luta ou fuga”.
Essa reação causa uma rápida cascata de mudanças: a frequência cardíaca aumenta, a pressão arterial sobe, a respiração fica mais rápida e a tensão muscular aumenta. No entanto, o sistema digestivo recebe menos atenção durante essa resposta. O cérebro direciona energia e fluxo sanguíneo para longe da digestão e em direção aos órgãos vitais necessários para a sobrevivência.
Os hormônios do estresse alteram a função do sistema digestivo
O hipotálamo também desencadeia a liberação de hormônios do estresse. As glândulas adrenais, localizadas acima dos rins, liberam adrenalina e cortisol na corrente sanguínea. A adrenalina prepara os músculos e os pulmões para uma ação rápida. O cortisol altera a maneira como o corpo utiliza a glicose, suprimindo funções não essenciais, como a digestão, e aumentando a vigilância cerebral.
O cortisol e a adrenalina interferem nos processos digestivos normais de várias maneiras:
- Esses hormônios reduzem o fluxo sanguíneo para o trato digestivo.
- Esses hormônios retardam o movimento dos alimentos pelo intestino.
- Esses hormônios diminuem a secreção de enzimas digestivas.
- Esses hormônios aumentam a tensão nos músculos do estômago e intestinos.
Esses efeitos podem levar a cãibras abdominais, pressão no abdômen, inchaço e dor abdominal. Esses sintomas podem aparecer repentinamente e se tornarem graves em minutos.
A conexão cérebro-intestino amplifica a dor
O sistema digestivo possui seu próprio sistema nervoso, conhecido como sistema nervoso entérico. O sistema nervoso entérico se comunica diretamente com o sistema nervoso central através do nervo vago. Essa conexão permite que o cérebro influencie a digestão e a sensação no intestino.
Durante o pânico, o nervo vago transporta sinais de estresse do cérebro para os intestinos. Esses sinais podem aumentar a sensibilidade na mucosa intestinal e intensificar a percepção da dor. Pessoas com um trato gastrointestinal sensível podem experimentar uma dor abdominal aguda. Mesmo pequenas alterações na tensão muscular ou na pressão nos intestinos podem se tornar dolorosas.
Além disso, o sistema nervoso entérico envia feedback ao cérebro. Esse circuito de retroalimentação pode agravar a ansiedade e reforçar a sensação de pânico. Um ciclo vicioso pode ocorrer, onde o pânico aumenta a dor abdominal e a dor abdominal aumenta o pânico.
Os músculos abdominais se contraem durante o pânico
Durante o pânico, os músculos do abdômen se contraem involuntariamente. Essa contração faz parte da tensão muscular geral que ajuda o corpo a responder ao perigo. Quando os músculos abdominais se contraem por um período prolongado, essa tensão pode se tornar dolorosa.
Músculos tensos na parede abdominal podem pressionar órgãos internos. Essa pressão cria uma sensação de peso ou cãibras na barriga. Em algumas pessoas, essa reação imita a sensação de uma condição médica séria, como apendicite ou uma obstrução gastrointestinal.

Alterações na respiração afetam a sensação abdominal
O pânico frequentemente provoca hiperventilação (respiração rápida e superficial). A hiperventilação altera os níveis de dióxido de carbono no sangue, podendo causar tontura, formigamento e desconforto no peito. Esses efeitos também podem afetar o abdômen.
A respiração superficial reduz o movimento do diafragma, que normalmente ajuda a massagear os órgãos abdominais. Menos movimento diafragmático pode levar à estagnação nos intestinos e promover a acumulação de gases. Essa acumulação pode distender as paredes intestinais e causar inchaço ou dor.
Além disso, a deglutição de ar durante a respiração rápida pode aumentar a pressão no estômago. Essa pressão pode levar a arroto, desconforto ou dor aguda na parte superior do abdômen.
O pânico pode piorar distúrbios digestivos existentes
Pessoas que já sofrem de distúrbios gastrointestinais podem experimentar sintomas mais graves durante episódios de pânico. O pânico não causa esses distúrbios, mas pode desencadear crises.
Distúrbios digestivos comuns afetados pelo pânico incluem:
- Síndrome do intestino irritável
- Dor abdominal funcional
- Doença do refluxo gastroesofágico
Durante o pânico, a atividade nervosa e hormonal anormal pode agravar a inflamação, problemas de motilidade intestinal ou hipersensibilidade no trato gastrointestinal. O resultado pode ser dor abdominal, diarreia ou náusea que duram horas após o término do episódio de pânico.
Fatores psicológicos e comportamentais também contribuem
O medo da dor abdominal em si pode causar mais tensão e preocupação. Muitas pessoas que experienciam dor abdominal induzida por pânico começam a evitar certos lugares, atividades ou alimentos. Esse comportamento de evitamento pode levar a uma má nutrição, isolamento ou depressão, o que pode agravar tanto os sintomas digestivos quanto os de saúde mental.
Pensamento catastrófico, como assumir que a dor abdominal sinaliza uma doença perigosa, também pode intensificar a resposta de medo. Esse padrão de pensamento aumenta a conscientização corporal e amplifica a percepção da dor, mesmo quando não há dano físico presente.
Em resumo, o pânico causa dor abdominal por meio de uma combinação de mecanismos neurológicos, hormonais, musculares e psicológicos. A resposta de medo do corpo interrompe a digestão, aumenta a tensão muscular, altera o fluxo sanguíneo e eleva a sensibilidade no intestino. Essas mudanças produzem efeitos reais e mensuráveis que resultam em dor, desconforto e angústia no abdômen.

