Nova substância química faz células de câncer de cérebro se autodestroem
Um composto químico recém-descoberto pode melhorar a sobrevivência em casos de câncer cerebral.

O glioblastoma é uma forma mortal de câncer cerebral. Tumores de glioblastoma surgem do tecido pegajoso e de suporte do cérebro, que recebe um abundante suprimento de sangue.

Portanto, é muito difícil tratar esse tipo de câncer; as células malignas se multiplicam muito rapidamente.

A taxa de sobrevivência média para este câncer agressivo é de 10 a 12 meses. De acordo com alguns estudos, a taxa de sobrevivência em 5 anos está abaixo de 10%. [1][2]

No entanto, uma nova pesquisa realizada por uma equipe internacional de cientistas pode ter encontrado uma maneira de parar a rápida disseminação das células cancerosas. Um novo composto químico sintético chamado KHS101 corta o “suprimento de energia” para essas células cancerígenas.

Heiko Wurdak, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, liderou o estudo, publicado na revista Science Translational Medicine. [3]

Experimentos em laboratório descobriram que o KHS101 interrompe as mitocôndrias das células cancerosas. Conhecidas como as “usinas de energia da célula”, as mitocôndrias são pequenas organelas responsáveis por transformar nutrientes em energia. [4]

Ao interromper o bom funcionamento das mitocôndrias, o KHS101 interferiu nesse metabolismo que produz combustível e fez com que as células se autodestroissem.

“Quando começamos essa pesquisa, achávamos que o KHS101 poderia desacelerar o crescimento do glioblastoma, mas ficamos surpresos ao descobrir que as células tumorais basicamente se autodestroem quando expostas a ele,” diz Wurdak.

Em seguida, os pesquisadores queriam verificar se esse composto poderia penetrar a barreira hematoencefálica, que é a “barreira entre os vasos sanguíneos do cérebro (capilares) e as células e outros componentes que compõem o tecido cerebral.” [5]

Essa barreira é essencial porque ajuda a proteger nossos corpos de patógenos, como bactérias e vírus. No entanto, a barreira pode ser um obstáculo quando os especialistas tentam administrar medicamentos.

Os roedores tratados com o composto tiveram uma diminuição de 50% em seus tumores, em comparação com os roedores que receberam placebo. O KHS101 conseguiu, de fato, atravessar a barreira hematoencefálica.

Os camundongos tratados com KHS101 sobreviveram à doença, e o tecido saudável ao redor dos tumores permaneceu intacto.

Importante, os pesquisadores também descobriram que esse composto foi eficaz no tratamento de todas as diferentes variações genéticas de células dentro dos tumores.

“Este é o primeiro passo em um longo processo, mas nossas descobertas abrem caminho para que os desenvolvedores de medicamentos comecem a investigar as aplicações desse químico, e esperamos que um dia isso ajude a prolongar a vida das pessoas nas clínicas.”

Heiko Wurdak

O professor Richard Gilbertson — um especialista em tumores cerebrais da organização sem fins lucrativos Cancer Research UK, que não esteve envolvido no estudo — também comenta sobre esses novos achados, dizendo: “O tratamento para o glioblastoma tem permanecido essencialmente inalterado por décadas. Portanto, há uma necessidade de pesquisas pré-clínicas como esta para identificar e caracterizar potenciais novos medicamentos.”

“Embora os achados sejam encorajadores como um composto experimental, mais testes rigorosos e refinamento do KHS101 são necessários antes que os testes em humanos possam começar.”

Nos Estados Unidos, quase 23.000 adultos foram diagnosticados com tumores cerebrais em 2015. De todos os tumores cerebrais primários, mais de 50% são glioblastomas.

Documentos de referência

1. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK12526/
2. https://www.abta.org/tumor_types/glioblastoma-gbm/
3. http://stm.sciencemag.org/content/10/454/eaar2718
4. http://www.mrc-mbu.cam.ac.uk/what-are-mitochondria
5. https://theconversation.com/explainer-what-is-the-blood-brain-barrier-and-how-can-we-overcome-it-75454