Ozempic (nome genérico: semaglutida) é um agonista do receptor do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1) amplamente prescrito para o tratamento do diabetes mellitus tipo 2 e para auxiliar na perda de peso. Este medicamento imita o hormônio GLP-1, regulando a glicose no sangue ao aumentar a secreção de insulina, retardar o esvaziamento gástrico e suprimir o apetite. Embora seja eficaz, Ozempic pode causar uma série de efeitos colaterais, desde distúrbios gastrointestinais comuns até condições raras, mas graves.

Efeitos colaterais do medicamento Ozempic
Efeitos colaterais gastrointestinais comuns
1. Náusea
A náusea pode ocorrer porque o Ozempic retarda o esvaziamento gástrico e interage com os receptores de GLP-1 nos centros de regulação da náusea do cérebro, como a área postrema. O esvaziamento gástrico retardado aumenta a distensão gástrica, estimulando as aferências vagais que sinalizam a náusea para o tronco encefálico. Além disso, a ativação direta dos receptores de GLP-1 no hipotálamo e no tronco encefálico pode reduzir o limiar para a percepção da náusea, especialmente durante a iniciação ou aumento da dose.
Frequência:
A náusea é o efeito colateral mais comum, afetando 15–23% dos pacientes em ensaios clínicos. Este efeito colateral é geralmente leve a moderado e mais pronunciado ao iniciar o tratamento ou aumentar a dose. Em ensaios de perda de peso com doses mais altas (por exemplo, Wegovy), a náusea foi relatada em até 44% dos pacientes.
Prevenção e manejo:
Para reduzir a náusea, comece com uma dose baixa (0,25 mg semanalmente) e aumente gradualmente a cada 4 semanas conforme tolerado, permitindo que o corpo se ajuste. Comer refeições menores e mais frequentes e evitar alimentos ricos em gordura ou picantes pode minimizar a distensão gástrica. Consumir alimentos neutros, como bolachas ou torradas, 30 minutos após a dosagem pode ajudar. Beber bastante líquidos e evitar odores fortes também mitiga a náusea.
Se a náusea persistir ou se tornar severa, consulte um médico, pois a alteração da dose ou a suspensão temporária pode ser necessária.
2. Vômitos
Os vômitos resultam de mecanismos similares à náusea, incluindo o esvaziamento gástrico retardado e a superexposição dos receptores de GLP-1 no centro de vômito do tronco encefálico. Mudanças rápidas na motilidade gástrica podem desencadear o reflexo do vômito, especialmente em indivíduos sensíveis ou durante a escalonagem da dose. A ativação central dos receptores de GLP-1 também pode aumentar as respostas eméticas.
Frequência:
O vômito ocorre em aproximadamente 8–10% dos pacientes em ensaios de diabetes e é mais frequente (até 20%) em ensaios de perda de peso com doses mais altas. Este efeito colateral é geralmente transitório, atingindo o pico no início do tratamento ou após aumentos de dose.
Prevenção e manejo:
Adote as mesmas medidas que para náusea: escalonamento gradual da dose do medicamento, alimentação com refeições menores e evitar alimentos desencadeantes. Beber água suficiente é crítico para prevenir a desidratação, um risco associado ao vômito. Comer refeições pequenas e frequentes e incorporar alimentos hidratantes, como sopas ou gelatina, pode ajudar. Se o vômito for severo ou persistente, uma avaliação médica é justificada para descartar complicações como desidratação ou desequilíbrios eletrolíticos.
3. Diarreia
A diarreia pode ocorrer devido ao retardamento do esvaziamento gástrico e alteração da motilidade intestinal pelo Ozempic. A ativação dos receptores de GLP-1 no intestino aumenta a secreção de fluidos e acelera o trânsito colônico em alguns pacientes, levando a fezes soltas ou aquosas. Esse efeito pode ser exacerbado por mudanças na microbiota intestinal ou fatores dietéticos durante o tratamento.
Frequência:
A diarreia ocorre em 8–14% dos pacientes, geralmente aparecendo nas primeiras semanas de tratamento. É geralmente leve a moderada e tende a se resolver à medida que o corpo se adapta.
Prevenção e manejo:
Para lidar com a diarreia, mantenha a hidratação com fluidos ricos em eletrólitos, como soluções de reidratação oral. Evite alimentos ricos em fibras ou gordurosos durante episódios de diarreia, optando por alimentos suaves, como arroz ou bananas. Aumentar a dose gradualmente reduz a probabilidade de diarreia.
Se a diarreia persistir por mais de algumas semanas ou levar à desidratação, consulte um médico para ajuste da dose ou medicamentos antidiarreicos.
4. Constipação
A constipação surge do retardamento da motilidade gastrointestinal devido à inibição da peristaltismo mediada pelos receptores de GLP-1. O Ozempic retarda o esvaziamento gástrico e reduz as contrações do músculo liso intestinal, levando a defecações infrequentes ou difíceis. A desidratação resultante da redução do apetite ou da ingestão de líquidos pode agravar esse efeito.
Frequência:
A constipação ocorre em 3–7% dos pacientes, mais comumente nos primeiros 28 dias de tratamento. É menos frequente do que outros efeitos colaterais gastrointestinais, mas pode persistir em alguns indivíduos.
Prevenção e manejo:
Aumente a ingestão de fibras alimentares gradualmente (por exemplo, frutas, legumes, grãos integrais) e assegure-se de beber água suficiente (8–10 copos de água diariamente). A atividade física regular estimula a motilidade intestinal. Laxantes ou amaciantes de fezes de venda livre podem ser utilizados a curto prazo, mas consulte um médico antes de começar a tomar esses medicamentos. O aumento gradual da dose minimiza o risco.

5. Dor abdominal
A dor abdominal ou cólicas abdominais resulta da alteração na motilidade gastrointestinal e distensão gástrica causada pelo retardamento do esvaziamento gástrico. A ativação dos receptores de GLP-1 também pode aumentar a sensibilidade visceral, amplificando o desconforto. Em casos raros, a dor abdominal pode sinalizar condições graves, como pancreatite, exigindo avaliação cuidadosa.
Frequência:
A dor abdominal ocorre em 5–7% dos pacientes e é tipicamente leve a moderada, ocorrendo cedo no tratamento. Dor severa é rara, mas requer atenção imediata.
Prevenção e manejo:
Comer refeições menores e com baixo teor de gordura e evitar bebidas gaseificadas reduz a distensão gástrica. O aumento gradual da dose ajuda seu corpo a se adaptar. Antiácidos ou simeticona de venda livre podem aliviar o desconforto leve. Dor persistente ou severa requer avaliação médica para excluir pancreatite ou outras complicações.
Efeitos colaterais graves do medicamento Ozempic
6. Pancreatite
A pancreatite aguda pode ocorrer devido aos efeitos dos agonistas do receptor de GLP-1 nas células pancreáticas, potencialmente causando inflamação através de mecanismos não claros. Estudos pré-clínicos sugerem que a semaglutida pode estimular a proliferação de células ductais pancreáticas, levando a obstrução ou inflamação ductal em indivíduos suscetíveis. A formação de cálculos biliares, outro efeito colateral do Ozempic, pode também contribuir ao obstruir o ducto pancreático.
Frequência:
A pancreatite é rara, ocorrendo em menos de 1% dos pacientes. Casos fatais e não fatais foram reportados, frequentemente em pessoas com fatores de risco como cálculos biliares ou consumo excessivo de álcool.
Prevenção e manejo:
Evite Ozempic em pacientes com histórico de pancreatite. Monitore sintomas como dor abdominal severa e persistente que irradia para as costas, com ou sem vômitos. Se a pancreatite for suspeita, interrompa imediatamente o uso do medicamento Ozempic e busque atendimento de emergência. Fatores de risco como consumo excessivo de álcool ou dietas ricas em gordura devem ser abordados antes de começar a tomar esse medicamento.
7. Tumores da tireoide (carcinoma medular da tireoide)
Em estudos com roedores, a semaglutida causou tumores das células C da tireoide dependentes da dose, provavelmente devido à ativação sustentada dos receptores de GLP-1 no tecido da tireoide, que os roedores expressam em níveis mais altos do que os humanos. A relevância para os humanos é incerta, já que as células C da tireoide humana têm menos receptores de GLP-1. No entanto, um aviso restritivo existe devido a esse risco potencial.
Frequência:
O câncer de tireoide é raro, com menos de 1% dos pacientes desenvolvendo-o em ensaios clínicos. Relatos pós-comercialização notaram casos, mas a causalidade não está confirmada.
Prevenção e manejo:
Ozempic é contraindicado em pacientes com histórico pessoal ou familiar de carcinoma medular da tireoide (MTC) ou síndrome de Neoplasia Endócrina Múltipla tipo 2 (MEN 2). Monitore sintomas como nódulos no pescoço, rouquidão ou dificuldade para engolir, e busque avaliação imediata se os sintomas estiverem presentes. Teste de imagem da tireoide de rotina ou monitoramento de calcitonina não é recomendado, a menos que os sintomas apareçam.
8. Hipoglicemia
A hipoglicemia ocorre quando o medicamento Ozempic aumenta a secreção de insulina na presença de baixa glicose no sangue, particularmente quando combinado com insulina ou sulfonilureias (por exemplo, glimepirida). A ativação dos receptores de GLP-1 aumenta a liberação de insulina dependente da glicose, mas a coadministração com outros agentes hipoglicemiantes pode desestabilizar esse equilíbrio, levando a níveis perigosamente baixos de açúcar no sangue.
Frequência:
A hipoglicemia ocorre em 2–10% dos pacientes quando Ozempic é usado com sulfonilureias ou insulina, com casos severos sendo raros. A monoterapia tem um risco menor.
Prevenção e manejo:
Reduza a dose de sulfonilureias ou insulina ao iniciar o uso do medicamento Ozempic. Explique aos pacientes sobre os sintomas da hipoglicemia (por exemplo, tremores, sudorese, confusão) e assegure-se de que eles carreguem carboidratos de ação rápida (por exemplo, tabletes de glicose). O monitoramento regular da glicose no sangue é essencial, especialmente durante mudanças de dose ou ajustes no estilo de vida.
9. Problemas na vesícula biliar
Ozempic aumenta o risco de cálculos biliares e colecistite porque este medicamento retarda a motilidade da vesícula biliar e altera a composição da bile. O esvaziamento gástrico retardado e a perda de peso também podem promover a estase biliar, levando à formação de cálculos biliares. A ativação dos receptores de GLP-1 pode ainda influenciar a contratilidade da vesícula biliar.
Frequência:
Cálculos biliares ocorrem em menos de 2% dos pacientes, com colecistite sendo ainda mais rara. O risco é maior com perda de peso rápida ou doses mais altas.
Prevenção e manejo:
Monitore sintomas como dor abdominal superior, febre ou icterícia, e busque avaliação médica se os sintomas estiverem presentes. Uma dieta baixa em gordura pode reduzir a estase biliar. Em pacientes com histórico de doença da vesícula biliar, pese os riscos e benefícios antes de iniciar o uso do medicamento Ozempic. Cirurgia pode ser necessária para casos severos.
Outros efeitos colaterais notáveis do medicamento Ozempic
10. Fadiga
A fadiga pode decorrer da redução da ingestão calórica devido à supressão do apetite ou desequilíbrios eletrolíticos transitórios resultantes de efeitos colaterais gastrointestinais. O mecanismo exato não está claro, mas pode envolver efeitos centrais dos receptores de GLP-1 na regulação da energia.
Frequência:
A fadiga ocorre em 3-5% dos pacientes. Geralmente é leve e transitória.
Prevenção e manejo:
Assegure-se de uma nutrição e hidratação adequadas. Monitore por causas subjacentes, como hipoglicemia ou desidratação. Se a fadiga persistir, avalie a presença de outras condições médicas com um médico.
11. “Rosto Ozempic”
“Rosto Ozempic” refere-se ao afundamento e às rugas da pele facial devido à rápida perda de peso, não a um efeito farmacológico direto. A perda de gordura subcutânea reduz o volume facial, acentuando características de envelhecimento. Este é um efeito secundário da supressão do apetite e da redução de peso.



Frequência:
Esse efeito colateral não é relatado sistematicamente, mas é anedoticamente comum em pacientes com perda significativa de peso (>10% do peso corporal). É mais perceptível com a perda rápida de peso.
Prevenção e manejo:
A perda de peso gradual através de dieta controlada e exercícios minimiza as mudanças faciais. Intervenções estéticas, como preenchedores ou cirurgia, podem ser consideradas para efeitos significativos, mas consulte um dermatologista ou cirurgião plástico. Manter hidratação e cuidados com a pele apoia a elasticidade da pele.
Ozempic é um medicamento altamente eficaz para o diabetes tipo 2 e manejo do peso corporal, mas pode causar efeitos colaterais, desde questões gastrointestinais comuns até condições graves e raras. A maioria dos efeitos colaterais é leve, transitória e gerenciável com ajustes de dose, mudanças no estilo de vida ou cuidados de suporte. Riscos graves, como pancreatite ou tumores da tireoide, embora raros, exigem monitoramento vigilante e educação do paciente.