A gamma-glutamil transferase (GGT) é uma enzima encontrada principalmente no fígado, com pequenas quantidades presentes nos rins, pâncreas e ductos biliares. Essa enzima desempenha um papel fundamental no transporte de aminoácidos e no metabolismo do glutationa. Os níveis normais de GGT geralmente variam de 5 a 55 U/L (unidades por litro) em adultos, dependendo dos padrões de cada laboratório. No entanto, níveis superiores a 500 U/L indicam disfunção hepática severa ou doença sistêmica que requer tratamento médico imediato.

Compreendendo a enzima GGT e sua importância
A GGT (gamma-glutamil transferase) é um biomarcador crucial para avaliar a saúde do fígado e das vias biliares. Níveis elevados de GGT sugerem lesão hepática, colestase ou consumo excessivo de álcool. Quando a GGT excede 500 U/L, muitas vezes sinaliza condições médicas sérias, necessitando de uma avaliação diagnóstica mais aprofundada.
Causas de níveis de enzima GGT acima de 500 U/L
Níveis de GGT severamente elevados podem resultar de uma das condições hepáticas e extra-hepáticas a seguir.
1. Doenças do fígado
Doença hepática colestática:
– Colangite biliar primária: A destruição autoimune dos ductos biliares intra-hepáticos leva à colestase e ao acúmulo de ácidos biliares, causando dano aos hepatócitos e liberação excessiva da enzima GGT. Os níveis de GGT em pacientes com colangite biliar primária variam de 200 a mais de 1.000 U/L, dependendo da gravidade da doença.
– Colangite esclerosante primária: A inflamação crônica e a fibrose dos ductos biliares causam colestase obstrutiva, levando ao estresse dos hepatócitos e a um aumento compensatório na síntese de GGT. Os níveis de GGT em casos avançados de colangite esclerosante primária frequentemente superam 500–1.500 U/L.
Hepatite:
– Hepatite viral (Hepatite B, C ou D): A replicação viral induz apoptose e necrose dos hepatócitos, desencadeando respostas inflamatórias que elevam a GGT. Casos severos de hepatite podem mostrar níveis de GGT entre 300 e 800 U/L.
– Hepatite autoimune: A destruição mediada pelo sistema imunológico das células do fígado leva ao vazamento da enzima. Pacientes com hepatite autoimune podem apresentar níveis de GGT entre 200 e mais de 600 U/L.
Tumores hepáticos:
– Carcinoma hepatocelular: A transformação maligna dos hepatócitos leva ao aumento da síntese de GGT devido ao crescimento rápido do tumor e à disfunção hepática. O nível de GGT em casos de carcinoma hepatocelular pode chegar a 500–2.000 U/L.
– Doença hepática metastática: A disseminação secundária do câncer interrompe a arquitetura do fígado, levando à produção anormal de enzimas. Os níveis de GGT relatados em tais casos variam de 500 a mais de 2.500 U/L.
Doença hepática alcoólica:
A ingestão crônica de álcool aumenta o estresse oxidativo, promove a apoptose dos hepatócitos e prejudica a secreção biliar, levando à elevação da GGT. Casos severos de doença hepática alcoólica frequentemente apresentam níveis de GGT entre 500 e 2.000 U/L.
2. Distúrbios do trato biliar
Cálculos biliares e colecistite:
A obstrução dos ductos biliares causa acúmulo de bile, lesão nos hepatócitos e colestase secundária, levando à alta liberação de GGT. Pacientes com obstrução grave relacionada a cálculos biliares podem apresentar níveis de GGT entre 400 e 1.200 U/L.
Neoplasias do trato biliar:
– Colangiocarcinoma: O crescimento tumoral obstrui o fluxo biliar, causando estresse nos hepatócitos e superprodução de enzimas. Os níveis de GGT em casos de colangiocarcinoma frequentemente variam de 800 a 2.500 U/L.
– Câncer de pâncreas: A compressão do ducto biliar principal prejudica a secreção biliar, levando à colestase. As elevações de GGT no câncer de pâncreas geralmente variam de 500 a 1.500 U/L.
3. Doenças sistêmicas
Sepsis severa e falência multiorgânica:
A inflamação sistêmica e a hipóxia levam à disfunção dos hepatócitos, resultando em aumento do vazamento da enzima. Os níveis de GGT na lesão hepática relacionada à sepse podem variar de 400 a 1.000 U/L.
Doença renal crônica:
Toxinas urêmicas prejudicam a função hepática, causando estresse oxidativo e superprodução de enzimas. Pacientes com doença renal crônica avançada podem apresentar níveis de GGT de 300 a 800 U/L.
4. Elevação da GGT induzida por medicamentos
Medicamentos que induzem elevação das enzimas hepáticas:
– Antiepilépticos (fenitoína, carbamazepina): Induzem a produção de enzimas hepáticas ativando as vias do citocromo P450, levando os níveis de GGT a ficarem entre 500 e 1.500 U/L.
– Estatinas (medicamentos para redução do colesterol): Podem causar estresse hepatocelular, aumentando a GGT para níveis de 200 a 600 U/L.
– AINEs (anti-inflamatórios não esteroides): Alguns pacientes desenvolvem hepatotoxicidade com níveis de GGT chegando a 400 a 900 U/L.
– Antibióticos (rifampicina, eritromicina): Podem induzir a superexpressão de enzimas hepáticas, levando a níveis de GGT entre 300 e 1.000 U/L.
– Antidepressivos (tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação de serotonina): Podem causar elevações leves a moderadas nas enzimas hepáticas, com níveis de GGT muitas vezes entre 200 e 700 U/L.
Métodos diagnósticos
1. Testes laboratoriais
Testes de função hepática:
– ALT (alanina aminotransferase) e AST (aspartato aminotransferase): Avaliam a lesão hepato-celular.
– Fosfatase alcalina (ALP): Avalia a obstrução dos ductos biliares.
– Níveis de bilirrubina: Indicam icterícia e disfunção hepática.
– Teste de hepatite viral: Rastreia infecções virais.
– Marcadores autoimunes (ANA, AMA, SMA, níveis de IgG): Detectam doenças autoimunes do fígado.
– Marcadores tumorais (AFP, CA 19-9, CEA): Ajudam a diagnosticar câncer de fígado ou biliar.
2. Estudos de imagem
– Ultrassonografia: Identifica cálculos biliares, dilatação do ducto biliar ou fígado gorduroso.
– Colangiopancreatografia por ressonância magnética (MRCP): Detecta obstrução e tumores nos ductos biliares.
– Tomografia computadorizada/Ressonância magnética: Avalia massas hepáticas e anomalias estruturais.
3. Biópsia hepática
A biópsia hepática será realizada se houver suspeita de hepatite autoimune ou fibrose hepática.
Tratamento de níveis altos da enzima GGT (>500 U/L)
1. Tratamento das causas subjacentes
Doenças colestáticas:
O ácido ursodesoxicólico (UDCA) é utilizado para tratar a colangite biliar primária e a colangite esclerosante primária.
Hepatite:
– Terapia antiviral para Hepatite B ou C.
– Tratamento imunossupressor para hepatite autoimune.
Doença hepática alcoólica:
Interrupção absoluta do álcool, suporte nutricional e possível terapia com corticosteroides.
Obstruções biliares:
– CPRE (colangiopancreatografia retrógrada endoscópica) para remoção de cálculos biliares.
– Intervenção cirúrgica para tumores biliares.
2. Modificações no estilo de vida
– Abstenção do álcool: Essencial na doença hepática induzida por álcool.
– Alterações na dieta:
- Dieta rica em proteínas e pobre em gordura para apoiar a função hepática.
- Aumento da ingestão de antioxidantes (por exemplo, Vitamina E, selênio).
– Gestão do peso corporal: Doenças hepáticas relacionadas à obesidade requerem perda de peso e exercícios regulares.
Prognóstico e perspectiva
O prognóstico para indivíduos com níveis de GGT acima de 500 U/L varia com base na doença subjacente:
- Condições agudas (por exemplo, cálculos biliares, hepatite A): Boa recuperação com tratamento prompt.
- Doenças crônicas (por exemplo, cirrose, colangite esclerosante primária, doença hepática alcoólica): Podem levar à falência hepática se não forem geridas adequadamente.
- Neoplasias: A detecção precoce melhora as taxas de sobrevivência.
Em resumo, um nível de enzima GGT superior a 500 U/L é um marcador significativo de doença hepática severa, obstrução biliar ou uma doença sistêmica. Uma avaliação clínica aprofundada, testes laboratoriais e exames de imagem são essenciais para identificar a causa e iniciar um tratamento em tempo hábil. Abordar a condição subjacente, realizar modificações no estilo de vida e monitoramento regular pode melhorar os resultados e prevenir complicações.