Microplásticos encontrados em alimentos e água podem se espalhar do intestino para o cérebro.

- Microplásticos são pequenas partículas de plástico que frequentemente se encontram em várias substâncias, incluindo alimentos.
- Os pesquisadores estão interessados em entender como o consumo de microplásticos pode influenciar a saúde e o funcionamento do corpo.
- Um novo estudo realizado em camundongos constatou que microplásticos podem se espalhar do intestino para órgãos vitais do corpo, como o cérebro, fígado e rins.
Humanos e animais frequentemente são expostos a microplásticos, pois estes estão presentes em muitas substâncias.
À medida que os pesquisadores buscam entender o impacto dos microplásticos, evidências estão se acumulando sobre os efeitos da exposição a essas substâncias e como isso pode influenciar os resultados de saúde.
Um estudo publicado em 10 de abril na revista Environmental Health Perspectives examinou como o consumo de microplásticos em quantidades semelhantes àquelas encontradas em nosso ambiente afetou camundongos.
De acordo com os autores do estudo, microplásticos ingeridos se espalham do intestino para o cérebro, fígado e rins.
“Nossos achados sugerem que a exposição a microplásticos pode levar a mudanças metabólicas nesses tecidos, indicando efeitos sistêmicos potenciais,” disse Marcus Garcia, PharmD, autor do estudo e pós-doutorando na Universidade do Novo México, em entrevista.
“As implicações de nossas descobertas para a saúde humana são substanciais.”
Microplásticos se espalham do intestino para o cérebro e outros órgãos
Microplásticos se tornaram altamente presentes no ambiente, incluindo no solo, alimentos e água.
Os autores do presente estudo definem microplásticos como partículas plásticas menores que 5 milímetros. Eles queriam descobrir como diferentes tipos de microplásticos influenciam os órgãos do corpo em camundongos.
Os autores do estudo tentaram replicar o consumo de microplásticos em uma quantidade que seja semelhante à exposição humana. Camundongos foram expostos a diferentes quantidades de microsferas de poliestireno ou polímeros mistos através de alimentação gástrica oral.
Após a alimentação dos camundongos com microplásticos, os pesquisadores examinaram o soro, o cérebro, o fígado, os rins e os tecidos do cólon para identificar a presença de microplásticos.
Os pesquisadores identificaram microplásticos em múltiplos órgãos, incluindo o cérebro, fígado e rins dos camundongos expostos. Esses achados mostram como os microplásticos são capazes de se espalhar para outras áreas distantes do corpo.
Após a exposição a microplásticos, também foi observado que mudanças metabólicas específicas ocorreram no cólon, fígado e cérebro.
Essas mudanças dependiam da quantidade de exposição que os camundongos receberam e do tipo de microplástico ao qual foram expostos.
“Ao expor camundongos a níveis de microplásticos semelhantes à ingestão humana, descobrimos que essas partículas podem, de fato, migrar do intestino para órgãos como o fígado, rins e cérebro,” explicou Garcia.
“Pesquisas anteriores do nosso grupo demonstraram que os microplásticos podem perturbar a função imunológica. Essa perturbação pode ser um problema ao lidar com infecções ou pode agravar condições como doenças inflamatórias intestinais. Além disso, nosso estudo foi realizado ao longo de um período de 4 semanas, mostrando alterações significativas no metabolismo. Este estudo traz insights sobre a acumulação de microplásticos no corpo a longo prazo, levantando preocupações sobre a exposição crônica. Além disso, nosso estudo revelou alterações metabólicas substanciais ligadas a vários distúrbios metabólicos e imunológicos, incluindo alterações no metabolismo de aminoácidos, lipídios e hormônios.”
A Dra. Heather Leslie, uma cientista independente especializada na análise de microplásticos e aditivos em humanos (e ecossistemas), com sede em Amsterdã e que não participou deste estudo, afirmou que uma descoberta importante deste estudo é que “microplásticos dosados em laboratório, próximos ao limite superior do tamanho das partículas para atravessar as camadas epiteliais intestinais, não apenas são absorvidos após a ingestão, mas também são depositados em órgãos.”
“Esse achado demonstra, em condições controladas, o que acontece no corpo com microplásticos ‘selvagens’, meu termo para aqueles microplásticos que encontramos em nosso ambiente de vida,” disse Leslie.
“Isso é significativo porque, uma vez estabelecidos, tipos comuns de microplásticos podem começar a interferir na biologia, como o trabalho de metabolômica neste mesmo estudo mostrou para múltiplos órgãos.”
Mais estudos sobre os efeitos dos microplásticos são necessários
Apesar das implicações desses achados, a pesquisa possui limitações.
Primeiro, os pesquisadores usaram camundongos para este estudo, portanto pesquisas futuras são necessárias para ver se esses achados podem ser aplicados a humanos.
Além disso, os pesquisadores utilizaram microplásticos que não continham aditivos químicos comuns em microplásticos, que podem agravar o consumo de microplásticos. Pesquisas futuras podem considerar como essas substâncias químicas podem afetar o impacto dos microplásticos nas pessoas.
Este estudo não investigou as taxas de eliminação de microplásticos, que podem influenciar seu impacto. Os pesquisadores avaliaram apenas o córtex pré-frontal dos cérebros dos camundongos e não conseguiram notar com precisão a localização das microsferas. Assim, é possível que os microplásticos não tenham atravessado a barreira hematoencefálica.
Os pesquisadores também notaram que sua análise de microplásticos foi limitada. Pesquisas futuras podem focar em melhores maneiras de identificar e medir microplásticos e plastificantes em tecidos.
“Mais pesquisas são críticas para responder a muitas perguntas sobre como a acumulação de microplásticos desempenha um papel na saúde humana,” observou Garcia.
“Precisamos entender melhor o impacto geral dos microplásticos. Atualmente, estamos explorando como os microplásticos chegam ao cérebro. Além disso, estamos utilizando técnicas recém-estabelecidas para investigar a acumulação de microplásticos nos tecidos do cérebro, fígado e rins humanos. Essas técnicas nos permitem isolar microplásticos de tecidos biológicos e quantificá-los utilizando Pirólise-Cromatografia Gasosa/Pesquisa por Massa.”
— Marcus Garcia, PharmD, autor do estudo
Abordando as preocupações sobre a exposição a microplásticos
Este estudo acrescenta à literatura médica existente sobre a extensão e influência dos microplásticos, mas mais trabalho precisa ser feito para entender completamente os efeitos.
Enquanto isso, existem algumas maneiras de reduzir seu risco de exposição a essas substâncias.
Por exemplo, evidências recentes sugerem que ferver água e passar por um filtro de café pode ajudar a eliminar muitos dos microplásticos encontrados na água. Se a pesquisa continuar a confirmar essas descobertas, essa prática pode se tornar mais comum.
Leslie propôs sugestões adicionais para reduzir o risco de exposição a microplásticos:
- escolher roupas e outros produtos livres de plástico
- optar por alimentos integrais e minimamente processados
- beber água filtrada
“Precisamos decidir cuidar de nós mesmos e evitar comprar coisas que liberam partículas plásticas indesejadas, pois não queremos ser poluídos por microplásticos”, disse Leslie.
A Dra. Tracey Woodruff, PhD, professora e diretora do Centro de Pesquisa e Tradução Ambiental para a Saúde (EaRTH) da Universidade da Califórnia, em São Francisco, afirmou que as evidências atuais mostram que os formuladores de políticas devem agir o mais rápido possível para evitar que a exposição humana a microplásticos aumente ainda mais.
“Sabemos que a produção de plástico deve crescer rapidamente na próxima década, e isso significa mais microplásticos. Ações governamentais são a forma mais equitativa e eficiente de garantir que as pessoas não sejam expostas a microplásticos. Enquanto isso, as pessoas podem limitar seu uso de plásticos e optar por recipientes de vidro/cerâmica e metal para água e armazenamento. Além disso, ações como lavar as mãos e usar mopas úmidas e aspiradores com filtro de HEPA mantêm a exposição ao pó baixa, onde os MPs (microplásticos) e outros produtos químicos costumam se acumular.”
– Tracey Woodruff, PhD, professora de pesquisa ambiental