- Cerca de 1% da população mundial vive com hipertensão pulmonar, que atualmente não tem cura.
- Pesquisadores afirmam que mudanças na dieta que limitam os aminoácidos glutamina e serina podem ajudar a desacelerar a progressão da doença e melhorar a eficácia dos medicamentos atuais.
- Cientistas também desenvolveram um novo teste diagnóstico não invasivo para hipertensão pulmonar com base em suas descobertas.
Pesquisadores estimam que cerca de 1% da população mundial vive com hipertensão pulmonar — uma condição que causa pressão arterial alta nos vasos sanguíneos dos pulmões.
Atualmente, não há cura para a hipertensão pulmonar. As opções de tratamento — medicamentos, cirurgia e mudanças no estilo de vida — podem ajudar a gerenciar os sintomas e prolongar a vida da pessoa.
Agora, uma nova pesquisa examinou os efeitos de intervenções dietéticas na hipertensão pulmonar.
Um recente estudo com camundongos publicado na revista Cell Metabolism mostra que mudanças na dieta que limitam os aminoácidos glutamina e serina podem ajudar a desacelerar a progressão da doença na hipertensão pulmonar e melhorar a eficácia dos medicamentos atuais.
Stephen Y. Chan, MD, PhD, coautor sênior deste estudo, nos disse:
“Contrariamente à uma ideia popular, a hipertensão pulmonar é uma condição prevalente com opções terapêuticas limitadas. Assim, ainda há uma taxa de mortalidade de 50% dentro de 5 a 8 anos após o diagnóstico. Embora existam novas terapias empolgantes recentemente aprovadas para o tratamento da hipertensão pulmonar, estamos longe de uma cura e nossos pacientes estão desesperados por melhores terapias para melhorar as taxas de mortalidade e a qualidade de vida.”
Efeitos dos aminoácidos na hipertensão pulmonar
Chan disse que decidiram buscar uma ligação entre dieta e hipertensão pulmonar quando observaram que células doentes chamadas fibroblastos dos vasos sanguíneos pulmonares na hipertensão pulmonar são surpreendentemente “famintas” pelos aminoácidos glutamina e serina.
“Nossos dados mostraram mais tarde que essa fome vem da necessidade dos fibroblastos de aumentar a produção e deposição de colágeno nos vasos sanguíneos para endurecê-los na doença,” ele continuou.
“Quando cortamos o fornecimento desses aminoácidos ou prevenimos o uso destes para a produção de colágeno, conseguimos reduzir a produção de colágeno, o endurecimento dos vasos e a piora da hipertensão pulmonar.”
Chan e sua equipe usaram um modelo de camundongo para testar sua teoria. Quando os camundongos foram submetidos a medicamentos que diminuíam a captação celular de glutamina e serina, os vasos sanguíneos hipertensos pulmonares foram aliviados de sua fome.
Além disso, os pesquisadores descobriram que a falta de glutamina e serina interrompeu a produção excessiva de colágeno, o que levaria ao endurecimento dos vasos sanguíneos pulmonares e à função prejudicada.
Novo teste diagnóstico para hipertensão pulmonar
Através das descobertas da equipe de pesquisa sobre serina e glutamina, eles também conseguiram desenvolver um novo teste diagnóstico para hipertensão pulmonar.
O teste utiliza tecnologia de tomografia por emissão de pósitrons (PET) e um traçador de imagem de glutamina para rastrear onde a glutamina vai no corpo. Células “famintas” por glutamina se destacam na tomografia PET, ajudando os médicos a fazer um diagnóstico.
“Um dos obstáculos cruciais no gerenciamento da hipertensão pulmonar é que o diagnóstico requer um teste invasivo chamado cateterismo cardíaco, onde um longo tubo oco é inserido nos vasos sanguíneos do pescoço,” detalhou Chan.
“Esse cateter é então inserido até o coração e os pulmões para medir a pressão diretamente. Nem todos os centros médicos possuem essa capacidade, particularmente aqueles em ambientes mais rurais ou isolados, e isso limita a capacidade de identificar e tratar adequadamente os pacientes com essa doença.”
“Embora utilizemos alguns estudos de imagem não invasivos, como ressonância magnética e ultrassonografia, eles não são suficientes para fazer o diagnóstico,” ele continuou. “Assim, um diagnóstico preciso e precoce da hipertensão pulmonar é crucial, e há uma necessidade clara de desenvolver melhor tecnologia de diagnóstico não invasiva.”
“Nossos dados foram realizados apenas em animais com hipertensão pulmonar experimental,” acrescentou Chan. “Estamos ativamente recrutando para um ensaio clínico em nossa instituição que está testando essa nova tecnologia PET em pacientes com hipertensão pulmonar.”
— Stephen Y. Chan, MD, PhD, coautor do estudo
Quais alimentos ajudam a reduzir a hipertensão pulmonar?
Chan disse que pela primeira vez, os pesquisadores têm provas de que ajustes dietéticos específicos — reduzindo a ingestão de glutamina e serina, em particular — podem servir como uma forma eficaz de tratar a hipertensão pulmonar.
“Isso abre uma nova forma de manejarmos essa doença, porque agora — em vez de depender apenas de medicamentos e transplantes — existem intervenções de estilo de vida possivelmente eficazes,” ele continuou.
“Para pacientes com hipertensão pulmonar, evitar alimentos ricos em serina e glutamina ou consumir alimentos com esses aminoácidos reduzidos pode melhorar os sintomas, reduzir a progressão da doença ou aumentar a eficácia dos medicamentos atuais,” explicou Chan.
No entanto, Chan alertou que é preciso cautela ao interpretar demais suas descobertas neste estágio.
“Nosso trabalho restringiu completamente toda glutamina e serina das dietas dos roedores, o que levou à melhora da hipertensão pulmonar,” disse ele.
“Vemos essa descoberta como uma importante prova de conceito de que manobras dietéticas podem ser eficazes como terapias nessa doença fatal. No entanto, esse nível de restrição absoluta não seria viável em uma dieta humana normal, e certamente não recomendamos que nossos pacientes tentem fazer isso neste momento.”
“Mais trabalho é necessário para determinar se níveis mais baixos de restrição de aminoácidos têm o mesmo efeito terapêutico e/ou se manobras dietéticas mais viáveis e seguras poderiam reforçar os tratamentos atuais para promover uma melhora ainda maior da doença,” acrescentou Chan.
Mais estudos sobre dieta e hipertensão pulmonar são necessários
Após revisar este estudo, Cheng-Han Chen, MD, cardiologista intervencionista certificado e diretor médico do Programa de Coração Estrutural no MemorialCare Saddleback Medical Center em Laguna Hills, Califórnia, nos disse que uma abordagem dietética para melhorar a hipertensão pulmonar é uma abordagem nova que pode ser mais acessível às pessoas com hipertensão pulmonar como forma de tratamento.
“A hipertensão pulmonar é uma doença complexa que pode ter muitas causas diferentes,” explicou Chen.
“Muitas das causas não são facilmente tratáveis com nossas terapias atuais. Esse tipo de pesquisa tem o potencial de fornecer novos alvos para medicamentos que poderiam melhorar as perspectivas para nossos pacientes com hipertensão pulmonar.”
No entanto, Chen afirmou que ainda não chegamos ao ponto em que as pessoas devem ajustar suas dietas especificamente para glutamina e serina com base nos resultados deste estudo.
“Aconselho todos os pacientes a seguirem uma dieta equilibrada e saudável para o coração. O próximo passo deve ser verificar se essas descobertas se aplicam em humanos, e não apenas em camundongos. Eles provavelmente estarão buscando estudos clínicos para avaliar os efeitos da dieta, especificamente a ingestão de glutamina e serina, na hipertensão pulmonar nesses indivíduos.”
— Cheng-Han Chen, MD, cardiologista
As pessoas com hipertensão pulmonar devem ajustar sua dieta?
Conversamos também com Monique Richard, nutricionista registrada e proprietária da Nutrition-In-Sight, sobre este estudo.
Richard explicou que os aminoácidos são os blocos de construção das proteínas. Alimentos ricos em aminoácidos incluem proteínas de origem animal e vegetal, grãos e leguminosas, sendo as fontes mais ricas e bio disponíveis — o que significa que o corpo pode utilizá-los de forma eficiente.
“Na prática, frequentemente observamos uma ingestão excessiva de proteínas animais entre aqueles que têm hipertensão, risco de doenças cardiovasculares, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e outras condições relacionadas, bem como fatores contribuintes relacionados a escolhas de estilo de vida, como atividade mínima, tabagismo, consumo de álcool, higiene do sono deficiente e estado de hidratação,” disse ela.
Para aqueles preocupados com sua ingestão de glutamina e serina, Richard aconselhou procurar um nutricionista registrado para avaliar completamente a composição da dieta e a ingestão apropriada para as necessidades individuais.
“Um nutricionista também avaliará o equilíbrio geral dos fatores dietéticos e de estilo de vida que influenciam a saúde em conjunto com a genética da pessoa e o estado físico atual, permitindo recomendações específicas e personalizadas,” ela continuou.
“Existem muitos aplicativos e plataformas tecnológicas que podem ajudar a decifrar a ingestão do perfil de aminoácidos, mas, uma vez que começamos a reduzir a ingestão até os blocos de construção das proteínas, micronutrientes e esse nível de scrutinização, começamos a perder de vista a imagem maior e todos os fatores que harmoniosamente produzem a sinfonia da saúde e vitalidade.”
— Monique Richard, nutricionista registrada
